12 março 2012

Querida Sofi,


 Hoje estive de novo em sua porta e nunca antes amarelo me pareceu tão convidativo. A força de Hércules me foi necessária para não tocar a madeira, não deixar ecoar meu chamado pelos nós dos dedos. Eu queria tanto te ver. Mas eu prometi te deixar em paz, não mais encher nossas vidas com esse monte dos meus sentimentos não correspondidos, pelo bem de mim, pelo bem de nós. Então parti, pé ante pé, nos poucos metros mais difíceis que já andei. Era o fim de nós mais uma vez, em mim dessa vez.
  E assim dei as costas ao seu amarelo, ao som da sua gargalhada, às suas margaridas sob a janela. Dei as costas à você e ao amor singelo que você me deu, tão frágil que quebrou ao menor dos tremores. E eu simplesmente decidi dar as costas, por que doía demais encarar.
  É que eu decidi desistir de nós, meu bem. Já deu demais desse amor só de um, dessa coisa não correspondida que destroça. Não aguento mais esse seu sorrido fingido, de quem não quer ferir, mas fere assim mesmo. E o que mais me dói não é o não-amor, ah, isso eu posso aceitar, mas a falta de consideração para com o meu coração que você exibe... Devia saber que dói muito mais quando é assim, que machuca muito mais quando eu sei que você só ficou por que não quer machucar. Não quero tua pena não, Sofi. Eu quero amor.
  Então aqui estou, me despedindo, que é pra cortar e doer de uma só vez e eu me curar, pra amar de novo, tentar de novo, viver de novo. Eu e você não deu. Bem que eu queria, mas não deu. E eu sei que você vai achar que isso é fugir, ignorar, e que não vai resolver nada, mas é o jeito, Sofi, é só o que dá pra fazer. Você me conhece bem, sabe que eu não sei fingir, que eu não sei viver de meia verdade. E eu nunca gostei de meio-tom. É tudo ou nada, e nada a gente deixa pra trás.
  Mas não te escrevo pra falar de portas, girassóis, meios-tons ou mentiras. Te escrevo pra dizer adeus, pra matar minhas saudades e minha hesitação. Mas ai, Sofi, que tristeza me dá desistir da gente. De você, que acreditava tanto em insistir, em tentar de novo, em fechar os punhos e encarar de frente. E eu aprendi tanto com você, Sofi. Aprendi a resistir a todas aquelas noites chuvosas, a construir abrigo entre teus braços, a me aquecer no teu calor. Mas a chuva virou tempestade em mim, soprando pra longe tudo o que a gente tinha, deixando só o que eu não sabia que guardava. E nosso amor voou, carregado pra nunca mais, e a casa já não tem mais teto. E as portas que pintamos de amarelo já não significam nada, por que tudo dentro está enxaguado, ensopado, destruído. E até as fotos do porta-retrato se apagaram, e não temos mais memória do que foi bom e agora que eu a descobri, sua pena não me deixa dormir. E não adianta, você já não me aquece. E eu descobri que já passou da hora de aprender a fazer minha casa de parede sólida e teto firme. Vou construir uma lareira na sala e me aquecer sozinho por um tempo.
  Então é adeus, Sofi, e obrigado pelas flores. Quando bate o sol na sala, é quase como se você estivesse lá e entre nós ainda fosse amor. Como se ainda fosse puro. E esses momentos são quase conforto pro meu coração doente. Mas tô sarando. Vou sarar. Não se preocupa, não se incomoda e não tem pena de mim. Amor acaba mesmo. Começar de novo faz parte. Mas não estranha se eu manter o jardim e as tintas das portas. Aqueles girassóis me fazem mesmo feliz (amarelo sempre foi a minha cor).
  Com amor, 
Fernand.   


  

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